
Os manifestantes que ocupam a Secretaria de Educação do Estado do Pará (Seduc), em Belém, estão recebendo apoio de “celebridades” do mundo pop, que resolveram dar seus pitacos sobre a crise criada a partir da informação de que aulas presenciais seriam extintas nas aldeias do interior do Pará. Às vésperas da COP-30, todos parecem querer aparecer um pouquinho mais como defensores "do bom, do justo e do melhor do mundo".
Figuras como o Dj Alok, a atriz paraense Dira Paes e a cantora de funk Anita, além de outros menos cotados, usaram suas redes para apoiar a invasão e cobrar do governador Helder Barbalho que ceda às reivindicações dos manifestantes. Animados, alguns líderes dos manifestantes querem, agora, que o presidente Lula venha a Belém para intermediar novas negociações.

Enquanto isso, a invasão do prédio-sede da Seduc, em Belém, ocorrida há 14 dias, segue atraindo mais integrantes de outras tribos e diversas autoridades. Sônia Guajajara, ministra de Povos Indígenas, do governo Lula, já esteve reunida com os manifestantes e participou de uma negociação direta com Helder e líderes das diversas tribos indígenas. O resultado foi negativo.
Ao invadir a Seduc, no dia 14 de janeiro, os líderes exigiam a “volta do SOMEI”, sistema modular de ensino indígena, ofertado pelo estado. Mas, logo a seguir, resolveram mudar a pauta de reivindicações e, intransigentes, passaram a exigir a exoneração do secretário de educação, Rossieli Soares e a revogação da Lei 10.820.

Rossieli Soares é ex-ministro da Educação e, até dias atrás, considerado o responsável pela acentuada melhoria do ensino médio paraense, que passou do 23º lugar para o 6º lugar no IDEB, em apenas três anos. Agora, é visto como “inimigo da Educação”.
Quanto à lei 10.820/24, promulgada em dezembro passado pelo governo do Pará, ela consolidou regramentos que estavam espalhados em diversas outras leis e, no entendimento do governo, moderniza o exercício do magistério.
Já os índios insistem que, com a nova lei, o Sistema de Organização Modular de Ensino Indígena (SOMEI) será extinto e “direitos são precarizados”. O governo do Pará nega que isso seja verdade.
Na segunda-feira, 27 o governador Helder garantiu que o governo não pretende acabar com a educação presencial do Somei. “Estão mantidas 100% presenciais todas as aulas do Somei. Serão presenciais, garantindo com isso o direito dos povos indígenas do estado”, afirmou.
Helder e Rossieli criaram um grupo de trabalho para elaborar uma nova política educacional indígena, mas isso não foi capaz de levar os manifestantes de volta às aldeias.
Diante do impasse, há pouca margem para negociar. Caso os manifestantes não recuem, restará apenas submissão ou guerra.
Cedendo às exigências das tribos, Helder terá dado um enorme passo para trás na reorganização do ensino médio no estado e demonstrado extrema fraqueza, algo incompatível com alguém que almeja ser vice-presidente da República.
Por outro lado, mantendo a lei em vigor e Rossieli no cargo, Helder compra briga com os “movimentos sociais” – articulados por partidos como o PSOL e outros radicais. A partir daí, não terá um segundo de paz e, em algum momento, será obrigado a usar a força para reprimir manifestantes.
Helder terá que encontrar uma saída no cipoal que tem a sua volta. Qualquer deslize pode ser fatal para as pretensões do grupo político do governador, que pretende se manter no poder por mais alguns anos.
Mas, uma coisa é certa: nesta crise atual ou na próxima, logo Helder terá que escolher entre aproximar-se do centro ou submeter-se às pautas da esquerda radical.
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